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Criptografia Numaboa

Charles Babbage

Seg

20

Jun

2005


21:00

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Babbage
Charles Babbage (1791-1871)

Charles Babbage foi uma figura absolutamente controvertida. Entre suas manias, destaca-se a de odiar músicos de rua. Conseguiu indispor-se com eles e, como resultado, foi obrigado a aguentar "serenatas" horrendas sob as janelas da sua casa. Além disso, Babbage adorava fogo. Certa vez ele "se cozinhou" num forno a 130°C por "uns cinco ou seis minutos sem qualquer desconforto maior" e, em outra ocasião, entrou na cratera do Vesúvio para observar lava derretida.

Espírito irriquieto, interessava-se por tudo e atuava nas mais diversas áreas. Matemático, filósofo, político, industrial, cientista e inventor, produziu desde coisas fantásticas até trivialidades divertidas: entre outras, criou um pegador de vacas, o dinamômetro, estabeleceu a distância padrão entre os trilhos de ferrovias, uniformizou os preços do serviço postal, descobriu como ocultar as luzes de faróis, estabeleceu os sinais de tempo de Greenwich e inventou o oftalmoscópio heliográfico. Seu maior feito, no entanto, foi ter projetado a primeira máquina que podemos chamar de computador.

Mas Babbage não era só esquisitice - apenas nasceu na época errada. Homem irrascível e de idéias contundentes, não fez muitos amigos. Quando morreu, em 1871, apenas uma carruagem, a da duquesa de Somerset, acompanhou o féretro até seu enterro no Kensal Green Cemetery. A Royal Society não publicou um obituário e o Times o ridicularizou. Apesar disso, perto do polo norte da lua há uma cratera chamada Charles Babbage.


BIOGRAFIA

Charles Babbage nasceu em 26 de Dezembro de 1792 em Teignmouth, Devonshire, filho do banqueiro Benjamin (Old Five Percent) Babbage. Estudou numa escola particular para depois frequentar o Colégio St. Peter, em Cambridge. Graduou-se em 1814 e sua reputação na universidade era de um grande matemático. Nos anos 1815-1817 contribuíu com três textos sobre "Cálculo de Funções" e, em 1816, tornou-se membro da Royal Society. Junto com Sir John Herschel e George Peacock, trabalhou para melhorar o nível do ensino de matemática na Inglaterra.

Foi muito cedo que Babbage notou a quantidade de erros importantes que ocorriam em diversos cálculos, inclusive astronômicos, devido ao uso de tabelas matemáticas que continham valores errados. Divisou então a possibilidade de usar máquinas para calcular e imprimir estas tabelas. Percorreu vários países da Europa para examinar vários sistemas mecânicos e acabou publicando alguns resultados da sua investigação no trabalho "Economy of Machines and Manufactures" em 1834. Perseguindo esta idéia, Babbage trabalhou grande parte da sua vida projetando e tentando construir suas máquinas de cálculo: a máquina das diferenças (veja o texto em Dispositivos) e a máquina analítica, os primeiros "computadores" de que se tem notícia. Infelizmente não chegou a produzir e ver uma delas funcionando.

De 1828 a 1839 Babbage foi professor de matemática em Cambridge. Publicou muitos textos em revistas científicas e foi vital na fundação da Sociedade Astronômica (1820) e de Estatística (1834). Teve uma vida de intensa atividade intelectual e intensamente produtiva. Nos últimos anos, entretanto, apresentou sinais evidentes de misantropia, considerando os homens como tolos e ladrões sujos. Em 1861 chegou a afirmar de que não havia tido um único dia feliz em sua vida e que ficaria feliz em trocar os dias que lhe restavam por apenas 3 dias 500 anos adiante.

Curiosidade

A máquina das diferenças de Charles Babbage, de acordo com o seu segundo projeto, foi construída por uma equipe do Science Museum de Londres para testar se efetivamente funcionaria. A máquina ficou pronta em Novembro de 1991, um mês antes do 200º aniversário de Babbage. Só a sua seção calculadora pesa 2.6 toneladas e é composta por 4.000 partes. A máquina funcionou perfeitamente.

BABBAGE E A CRIPTOLOGIA

Babbage também tinha vivo interesse pela criptologia. Tanto Singh (1999) quanto Swade (2000) relatam que, em 1854, um dentista de Bristol, John Thwaites, tornou público que havia inventado um novo sistema de cifra. Babbage, analisando a cifra do dentista, respondeu também publicamente que o homem havia re-inventado a inviolável cifra de Vigenère (veja em Cifras). Enfurecido, o dentista desafiou Babbage a quebrá-la, o que ele acabou fazendo.

Acontece que a Guerra da Criméia (veja em Guerras) tinha apenas começado e a adversária dos aliados franco-britânicos, a Rússia, usava principalmente a cifra de Vigenère - afinal, depois de 300 anos de inviolabilidade, esta cifra oferecia um alto grau de segurança. Não se sabe se foi o próprio Babbage que não quis divulgar seu feito ou se foi o governo britânico que impôs o silêncio. Em todo caso, o mérito de quebrar a cifra de Vigenère acabou ficando com o prussiano Friedrich Kasiski, o qual, curiosamente, utilizou o mesmo método de Babbage em 1863.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar do gênio difícil, imagino que seria extremamente divertido participar das investidas de Babbage. Imagine seu plano em "Economy of Manufactures" de "simplesmente ligar tubos de estanho para falar através deles". Ele mesmo calculou que levaria 17 minutos para que as palavras articuladas em Londres chegassem em Liverpool. Ou seu plano para enviar mensagens "colocadas em pequenos cilindros" através de fios suspensos em pilares altos - imaginou que as torres das igrejas serviriam ao propósito.

Coloque-se ao lado de Babbage quando ele calculava que a cada momento morre um homem e a cada momento 1 1/16 nasce, só para corrigir o poeta Tennyson que escreveu "Ev'ry moment a man dies / Ev'ry moment one is born". Ou então quando resolve calcular sua "Tabela de Frequência Relativa das Causas da Quebra de Placas de Vidro de Janelas" para a "Mechanics Magazine", detalhando 464 vidraças estilhaçadas, das quais 14 foram por conta de "bêbados, mulheres ou meninos". Não consigo ver um modo mais divertido de aprender estatística!

Em "Passages" Babbage conta como, ainda muito jovem, quase morreu afogado testando seu dispositivo para andar sobre a água. Em "Conjectures on the Conditions of the Surface of the Moon" (Conjecturas sobre as condições da superfície da lua) nós o encontramos descrevendo suas 1837 experiências cozinhando um "ensopado de carne e vegetais muito respeitável" em caixas pretas com janelas de vidro enterradas no chão. No final da sua vida, quando o encontramos atrapalhando a prevenção da falsificação de notas bancárias e trabalhando na navegação marinha, percebemos que, com sua curiosidade incontida e com seu senso de admiração maravilhosamente humano, Babbage escapa da patologia e atinge a grandeza.

Fontes e Autoria
  • The Babbage Pages, de Antony Hyman, Outubro de 1996.
  • Charles Babbage, Wikipedia.
  • Os textos originais estão nos Links - Criptografia - Referências da Criptografia NumaBoa - História - Charles Babbage.

Texto publicado pela primeira vez na Aldeia em 24 de Agosto de 2003.

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