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Biblioteca da Aldeia

Primatas

Ter

12

Jun

2007


17:29

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Veríssimo

A minha tese de que o homem descende do macaco, mas a mulher não, é apoiada em evidências científicas, não só no fato de que somos mais feios e cabeludos. Por exemplo: é sabido que mulheres dão melhores primatólogas, como a interpretada pela Sigourney (o nome, se me permitem um entre parênteses confessional, que eu adotaria se fosse travesti) Weaver naquele filme. Existem várias teses sobre a razão desta predominância feminina no estudo dos macacos. Seria porque entendem, muito mais do que o homem, de comunicação não-verbal - como atesta a eloqüência de uma troca de olhares entre mulheres, principalmente quando o objeto da mensagem silenciosa é outra mulher, e o poder expressivo de um beicinho -, porque têm mais paciência e principalmente porque não partem, como os homens, de preconceitos fixos, como o de que qualquer tribo de macacos é um patriarcado só porque os machos são mais exibidos. Os homens também seriam menos capazes de estudar macacos com isenção científica porque se sentiriam inconscientemente revoltados com a promiscuidade sexual das macacas. Quer dizer, seriam mais moralistas. E haveria razões mais rarefeitas. Não faz muito, apareceu uma teoria de que o fim dos matriarcados e o começo da falocracia que até hoje domina o mundo teria coincidido com a criação do alfabeto. Assim, as mulheres se sentiriam atraídas para a primatologia porque, entre os macacos, recuperariam um pouco da sua condição perdida, não apenas anterior à palavra escrita, mas anterior à própria linguagem. Entre os gorilas, as sigourneys seriam, de novo, deusas.

É surpreendente que ninguém tenha pensado na razão mais lógica para as mulheres dominarem este ramo da ciência. É que, durante toda a sua história, elas não fizeram outra coisa senão cuidar de macacos. Sua paciência se desenvolveu com a necessidade de esperar que o homem passasse por suas várias fases, de bicho a hominídeo, até poder ficar bem num smoking. Acompanharam a nossa evolução, nos estudaram desde que tínhamos rabo, nos ensinaram a usar o dedão opositor, a não babar no peito... E quando finalmente criamos a linguagem, e depois o alfabeto, e concluímos que éramos melhores do que elas, foram tolerantes na sua resignação e aceitaram a nossa ingratidão, pois sabiam que estavam lidando, afinal, com animais interessantes, mas animais.

Enfim, foi um longo aprendizado.


Luis Fernando Veríssimo
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