Biblioteca da Aldeia

Cruzada

Ter

12

Jun

2007


17:19

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Veríssimo

NOVA YORK - É fácil gozar o Bush, um homem decididamente menor do que o momento exige. Dobliu Bush repete Harry Truman, outro político medíocre e paroquial, que entrou na história do mundo por acidente. Truman porque era o vice de Roosevelt e o substituiu no fim da Segunda Guerra, Bush porque ganhou na Suprema Corte uma eleição que tinha perdido no voto. Nada na vida de Truman o preparara para decidir se bombas atômicas deveriam ser usadas contra civis. Bush deve ter aprendido a pronunciar "Afghanistan" esta semana e não tinha muito interesse pelo mundo até o mundo literalmente desabar sobre a sua cabeça. Suas decisões também vão afetar a vida de milhares de pessoas e possivelmente o grau de radiação no ar do planeta. Claro que Truman não decidiu tudo sozinho e há sérias dúvidas sobre se Bush está decidindo qualquer coisa além de que gravata usar, mas preparo e inteligência presidenciais contam numa hora destas, mesmo que sejam só aparentes. A simpatia do público pelo seu jeitão caipira e os antecedentes do cargo - Eisenhower também não conseguia construir uma frase completa e Reagan, dizem, fingia que governava o país entre longas sestas - favorecem Bush, mas razões para preocupação, e gozação, começam a se multiplicar. A escolha da palavra "cruzada" para descrever a campanha do seu governo contra o terrorismo causou gemidos incrédulos entre os aliados e muçulmanos - precisava lembrar o mais sangrento exemplo de desencontro e confronto religioso e racial da história, logo agora que tudo depende da colaboração de moderados islâmicos? A única desculpa é que Bush não sabia o que estava dizendo. Depois de uma primeira reação compreensivelmente emocional e hesitante aos ataques., Bush se preocupou em demonstrar a mistura de decisão e sabedoria que o país precisava ver, já que a idéia é vingar o ultraje sem provocar o Armagedon, mas a cara e a articulação não ajudam. O vice-presidente Dick Cheney, que do trio que forma com Bush e Powell é o único com esperteza à altura da ocasião, já deve ter ordenado que tentem evitar entrevistas improvisadas para que bobagens como a das cruzadas não se repitam.

Também é fácil simpatizar com Bush. Gente mais brilhante do que ele tentou mexer com a geopolítica da Ásia Central com o que parecia ser sofisticação, esquecendo o aviso de Kipling, de que não se deve tentar trapacear o Oriente, e acabou criando o monstro que Bush agora tem que enfrentar como um incongruente cowboy diplomata. Bin Laden e o Taleban são produtos da política americana na região, no tempo em que o inimigo principal era a União Soviética, contra a qual os bandidos de hoje se rebelavam, apoiados pela CIA. Outro atenuante para o cruzado Bush: a inteligência americana também não é muito inteligente.


Luis Fernando Veríssimo
O Estado de São Paulo - Terça-feira, 19 de setembro de 2001
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